Autor
José Celson Braga Fernandes – Engenheiro agrônomo, doutorando em Biocombustíveis UFU/UFVJM – celsonbraga@yahoo.com.br

O crambe tem conteúdo de óleo nas sementes de 38%, o qual apresenta características especiais, como alta percentagem de ácido erúcico (50-60% do óleo), o que justifica seu uso preferencial pelas indústrias farmacêutica, cosmética, de plásticos, nylon, lubrificantes industriais, inibidores de corrosão, entre outras
Referente à produção do crambe no Brasil, podemos dizer que ainda temos uma produção tímida, apesar de encontrar áreas individuais consideradas grandes, como é o exemplo do oeste da Bahia, onde estão extensões de 500 hectares com plantio de crambe.
Como sendo uma cultura que produz um óleo rico em ácidos graxos específicos, o crambe tem movimentado milhões de dólares nos mercados estrangeiros, sendo bastante requisitado como matéria-prima.
Por sua alta procura, institutos de pesquisas estrangeiros têm realizado altos investimentos no melhoramento genético dessa cultura, otimizando seu desempenho agronômico no que se refere à produção de óleo, melhorias na concentração do glucosinolato e adaptações a locais poucos favorecidos de condições agricultáveis.
Área plantada
Atualmente, no Brasil temos cerca de 20 mil hectares plantados com crambe, sendo este plantio distribuído nos Estados do Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais e Bahia.
A sua produção pode chegar a uma produtividade em torno de 1.000 a 1.500 kg ha-1, porém, há relatos com produções superiores, chegando próximo dos 3.000 kg ha-1. Com as culturas agrícolas sendo favorecidas por condições ideais e um acompanhamento agronômico, o crambe tem apresentado altos rendimentos.
Para tais condições, exige-se solo com boa fertilidade e água disponível nos momentos certos, apesar de o crambe ser uma cultura que se desenvolve bem em condições desfavorecidas de água.
Introdução no Brasil
Introduzido no Brasil no ano de 1995 pelo Estado do Mato Grosso do Sul, por meio das pesquisas realizadas pela Fundação Mato Grosso do Sul (Fundação MS), o objetivo do crambe era ser utilizado na rotação de cultura e como cobertura do solo. No início sua expansão não teve êxito, pois o nabo forrageiro apresentava cobertura muito superior e a sua produção de grãos não teve mercado (Pitol et al., 2008).
Portanto, desde a sua introdução no País, observou-se o seu potencial na produção de grãos ricos em óleo. Com isso foram introduzidos no Brasil materiais vindos do México, os quais foram selecionados por pesquisadores da Fundação Mato Grosso do Sul, obtendo-se uma cultivar de origem brasileira, apresentando cerca de 40% de óleo, predominando em sua composição o ácido erúcico.
Panorama brasileiro
No cenário atual, o Brasil é visto como celeiro do mundo, para onde todos os olhares estão voltados quando falamos de produção agrícola. Por apresentar um vasto território agricultável, com terras férteis e clima favorável para diversas culturas agrícolas, temos chamado a atenção para a introdução de novas culturas.
No entanto, o Crambe tem cerca de 30 anos de sua introdução, e atualmente tem tomado uma proporção de destaque no cenário agrícola, sendo expandido para diversas áreas do País.
Características
O crambe apresenta um ciclo curto e bastante resistente às condições climáticas. Do plantio à colheita são em torno de 90 dias, sendo adequado para uma segunda safra. Seu cultivo é de baixo risco, e ideal para rotação de culturas.
Em algumas áreas o crambe vem ganhando espaço nas janelas de plantios da segunda safra (safrinha), visto que ainda ficam áreas sem uso durante esse período. Assim, o produtor tem introduzido o crambe, que não ocupa áreas produtoras de alimentos.
Para que serve o crambe?
A cultura do Crambe abyssinica tem apresentado potencial para fornecer matéria-prima para os biocombustíveis, indústrias farmacêuticas e de cosméticos (Echevenguá, 2007). É uma cultura com alto teor de óleo, e sua composição conta com ácido erúcico, um ácido graxo de cadeia longa que tem alto valor industrial. É utilizado para fabricação de produtos químicos intermediários, que posteriormente são utilizados como insumos na fabricação de sacos plásticos, cosméticos, produtos de higiene pessoal, detergentes para roupa, etc.
Seu óleo é um lubrificante com alta eficiência, sendo altamente biodegradável quando comparado com os óleos minerais, utilizado isoladamente ou como aditivo nos mais diversos fins industriais (Pitol, 2008).
Vale destacar que o ácido erúcico é usado como lubrificante industrial, inibidor da corrosão, como ingrediente na manufatura da borracha sintética, isolamento elétrico, para confecção de películas plásticas, surfactantes, agentes da flutuação e inibidores da corrosão.
Outros derivados do óleo podem ser usados em novos tipos de nylon, base para pinturas e revestimentos, líquidos hidráulicos de alta temperatura, produtos farmacêuticos, cosméticos, ceras e, principalmente, para biodiesel (Costa, 2018).
Do preparo de solo à colheita
Apresentando amplas adaptações climáticas e agronômicas, em geral é tolerante à seca e solos moderados salinos, mas sensíveis a inundações. Pode ser plantado em ecossistemas semiáridos e áridos, não havendo a necessidade do uso de água de boa qualidade, uma vez que nessas regiões é comum a água rica em sais.
A utilização de fertilizante é necessária para atingir boas produções em solos que se mostram deficientes. Em geral, são recomendados fósforo e potássio para produção dos grãos. Em experimentos conduzidos verificou-se que o crambe obteve excelentes respostas às seguintes adubações: ~50 kg/ha de P2O5 e ~89 kg/ha de K2O.
O crambe também responde ao fertilizante nitrogenado, com variação entre ~89 e ~150 kg/ha (Benetoli da Silva et al., 2011). Em ensaios, o crambe tem demostrado uma grande eficiência, quando utilizada a adubação organomineral (Fernandes, 2020).
Daninhas
O controle de ervas daninhas é importante para alcançar altos rendimentos de crambe. Além do mais, as ervas daninhas também podem contribuir para a umidade da semente (Stougaard e Moomaw, 1991), afetando negativamente a germinação e colheita.
No seu plantio recomenda-se uma distância de semeadura entre 12,5 a 90 cm entre as fileiras. Logo, linhas estreitas tendem a reduzir a ramificação, mas fornecem uma maturidade mais uniforme. Largura das fileiras de 15 – 30 cm podem fornecer rendimentos elevados.
Já a profundidade de plantio é um fator crítico para o crambe obter rendimentos aceitáveis (Oplinger et al., 1991). Recomenda-se ter 0,6 cm em solos normais e até 2,5 cm em regiões mais secas. Recomenda-se uma taxa de semeadura de 11 – 22 kg/ha (Carlson et al., 1996).
Doenças
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