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quarta-feira, janeiro 22, 2025
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Aplicação de biológicos no sulco de plantio da batata

Vanessa Alves GomesEngenheira agrônoma, mestra em Fitopatologia, doutora em Proteção de Plantas e professora universitária – CESGvavvgomes@gmail.com

Carolina Alves GomesEngenheira agrônoma e mestranda em Produção Vegetal – UFV/CRPcarol.agomes11@gmail.com

Batata – Crédito: Shutterstock

A batata inglesa (Solanum tuberosum L.) é considerada uma cultura de grande importância econômica no Brasil e no mundo. A cultura apresenta melhor desenvolvimento em regiões com temperaturas amenas (18 – 22ºC). Temperaturas muito elevadas causam reduções de rendimento ao prejudicar o desenvolvimento das plantas.

Pode ser cultivada em três safras, a das águas (dezembro a março), a da seca (abril a agosto) e a de inverno (setembro a novembro). Os melhores rendimentos médios são obtidos nas safras de inverno devido às condições climáticas mais favoráveis para o desenvolvimento das plantas.

Fitossanidade

O custo de produção desta olerícola sofre variações a depender dos problemas fitossanitários presentes. Diversas são as doenças que podem ser encontradas durante seu cultivo, tais como doenças fúngicas, bacterianas, viróticas e causadas por nematoides.

Os patógenos de solo são os de maior importância, devido à capacidade de atingir o produto comercial em questão, os tubérculos da batata ou a batata-semente.

Dentre os principais responsáveis por reduções de produtividade na cultura da batata temos os nematoides-das-galhas (Meloidogyne spp.), nematoides-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus), mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), murcha de verticillium (Verticillium dahliae), murcha de fusarium ou podridão-seca (Fusarium solani), canela-preta ou podridão-mole (Erwinia carotovora), requeima (Phytophthora infestans), rizoctoniose (Rhizoctonia solani), sarna-comum (Streptomyces scabies) sarna-prateada (Helminthosporium solani) e a sarna-pulvirulenta (Spongospora subterranea).

Manejo

Para o manejo destes patógenos o produtor pode encontrar algumas dificuldades, visto que após a entrada de nematoides na área a erradicação é dada como impossível. Nestes casos, é necessário adotar manejos em prol de reduzir a população do inóculo no local.

Em relação às doenças causadas por bactérias, o controle também é bastante complexo devido à falta de produtos disponíveis no mercado e ao avanço muito rápido da doença no campo. Atualmente, encontram-se disponíveis no mercado apenas a casugamicina como ingrediente ativo registrado para bactérias na cultura da batata.

Já em relação aos patógenos fúngicos, há uma diversidade maior de produtos químicos disponíveis no mercado, no entanto, os fungos de solo são muito agressivos e também apresentam dificuldade no seu controle.

Para os problemas fitossanitários, no geral, a medida mais eficiente é o controle preventivo. Assim, evita-se a introdução do patógeno na área e o início de doenças que podem prejudicar as lavouras. Mas, em locais onde é encontrado o patógeno inserido é necessário aplicar medidas associadas de controle.

Biológicos

O controle biológico é uma medida que vem ganhando força, cada dia mais. Apesar das limitações existentes ao se trabalhar com um microrganismo atuando no controle de outro microrganismo, estudos demonstram sua eficiência e aplicabilidade no campo.

Uma alternativa para otimizar o controle biológico na batata é a sua realização no sulco de plantio. Ao adicionar o agente de controle no sulco de plantio, a eficiência no controle é maior devido ao microrganismo estar próximo do sistema radicular.

Por se tratarem de organismos vivos, a aplicação requer mais cuidado. É necessário se atentar ao pH e temperatura da calda. Os microrganismos são altamente sensíveis e não toleram temperaturas extremas, bem como o pH da calda pode alterar as atividades destes agentes no controle dos patógenos.

O produtor pode realizar a aquisição de produtos biológicos no mercado e fazer o preparo da calda na área de plantio. Nestes casos, é importante utilizar produtos dentro do prazo de validade e que foram submetidos a boas condições de transporte e armazenamento até sua utilização.

O preparo da calda deve ser realizado no momento da aplicação. No controle biológico a calda não pode ser armazenada para aplicações futuras, pois o produto não estará mais viável.

On farm ou industrial?

O sistema on farm reduz os custos e torna a aplicação mais acessível para o produtor, mas oferece riscos em relação à viabilidade do produto final. Já a aquisição de um produto comercial biológico oferece um produto com um padrão pré-estabelecido de qualidade.

A presença de uma única célula bacteriana indesejável no tanque de aplicação pode inviabilizar os microrganismos desejáveis. Fazer uso de um produto comercial registrado confere segurança e garante a pureza dos agentes de controle ali presentes.

Via sulco de plantio

A aplicação no sulco de plantio é uma alternativa econômica e bastante eficiente, mesmo ainda sendo pouco conhecida e utilizada pelos produtores de batata. O produto pode ser aplicado de forma direcionada, ficando próximo ao sistema radicular, garantindo o seu contato com o alvo.

Outro benefício desta medida de controle é que, além dos microrganismos serem capazes de controlar os patógenos, eles ainda atuam como promotores de crescimento, beneficiando o crescimento e desenvolvimento da planta.

Como exemplo de microrganismos que podem ser utilizados no sulco de plantio da batata temos produtos à base de Trichoderma spp. e Bacillus subtilis. Estudos mostram que o Trichoderma spp., quando utilizado no tratamento da batata-semente, no sulco de plantio ou no momento da amontoa, é capaz de reduzir a severidade das doenças de solo, tais como murcha de fusarium, podridão-seca, mofo-branco, murcha de verticillium e rizoctoniose.

Em relação ao uso de Bacillus subtilis, o controle no sulco de plantio é eficiente para mofo-branco, sarna-prateada e nematoides. Além disso, outros estudos indicam que o Trichoderma spp. reduz a capacidade de crescimento do S. sclerotiorum por meio da competição por espaço, nutrientes e pela liberação de substâncias tóxicas. O mesmo foi observado no controle de S. rolfsii e S. sclerotiorum.

Manejo associado

Uma forma de otimizar a eficiência do controle é fazer uso de uma associação do controle biológico com produtos químicos registrados para a cultura. Assim, é possível melhorar a microbiota no sulco de plantio, reduzir os patógenos causadores de doenças, favorecer o desenvolvimento do sistema radicular e parte aérea da planta, bem como evitar perdas na produtividade.

Pode-se, também, adotar práticas culturais no manejo de doenças, tais como o aumento da umidade do solo, na fase de tuberização. Esta medida favorece um maior crescimento de fungos antagonistas, aumenta a disponibilidade de manganês, proporciona uma redução de oxigênio, o que desfavorece o desenvolvimento de fungos patogênicos, como o da sarna-comum (Streptomyces scabies).

A cultura da batata requer mais estudos do manejo dos patógenos de solo, devido aos danos causados diretamente no produto final. Além disso, é importante a associação de controles, baseada nas boas práticas agrícolas, para que haja uma boa produtividade, sem ocorrência de doenças na área.

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