
Marla Silvia Diamante
Doutora em Agronomia/Horticultura – UNESP
Rafael Rosa Rocha
Rayla Nemis de Souza
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
Hortaliças baby leaf fazem parte de um mercado em ascensão na horticultura brasileira e mundial. Baby leaf, ou folha baby, é o termo designado para hortaliças folhosas onde a colheita é antecipada (precoce) em relação ao tempo que tradicionalmente se costuma colher para o consumo.
Dessa forma, as folhas são jovens, não estão expandidas completamente e apresentam aspecto mais macio, são saborosas e podem apresentar diferentes cores e formatos, dependendo da espécie utilizada e apresentam uma elevação de nutrientes.
Trata-se de hortaliças como alface, rúcula, alface e espinafre, colhidas precocemente, ou seja, antes de completarem o ciclo de cultivo. A alface, o agrião, a beterraba e a rúcula, entre outras espécies de hortaliças, são opções interessantes para a produção de baby leaf no Brasil, especialmente por estarem difundidas entre a população nos seus tamanhos convencionais.
A valorização do mercado gourmet estimulou a procura do consumidor por esse produto, podendo ser encontrados em lojas e principalmente em supermercados especializados ou nos grandes centros urbanos. Outro ponto importante é a praticidade, visto que esse produto, em grande parte, é comercializado já higienizado e embalado, pronto para a alimentação.
Cabe ressaltar que as baby leafs podem auxiliar no estímulo do consumo de hortaliças, inclusive para crianças, que têm preferência por produtos de tamanho reduzido e de coloração variada.
Agregado de valor
O valor agregado desse cultivo está relacionado à comercialização do produto final, visto que geralmente as folhas são higienizadas, embaladas e estão prontas para o consumo in natura. Podem ainda ser vendidas separadamente por espécie ou na forma de mix, com a combinação de folhas de diferentes espécies.
No Brasil, mais especificamente no Estado de São Paulo, a comercialização em supermercados possui duas maneiras, na forma de folhas soltas acondicionadas em embalagens plásticas, e também na forma de plantas inteiras com sistema radicular produzidas em sistema hidropônico do tipo Nutrient Film Technique (NFT).
A praticidade e a qualidade nutricional tem sido também ponto-chave na escolha do consumidor, que tem optado por alimentos ricos em compostos benéficos à saúde. Alguns estudos apontam que plantas jovens, especificamente em seus primeiros estágios de desenvolvimento, como brotos, microgreens e baby leafs, demonstram ter mais de 20 vezes o conteúdo de compostos bioativos em comparação com plantas adultas.
O principal cuidado é saber o momento ideal da colheita, que permita a obtenção de uma folha baby. No Brasil, por exemplo, é interessante que as maiores folhas não excedam 15 cm de comprimento, medido do início do pecíolo até o final do limbo foliar.
Contudo, o comprimento das folhas vai depender da espécie e da forma de utilização (in natura ou em pratos), variando entre três e 15 cm de comprimento.
O cultivo pode ser realizado no solo (dentro ou fora de ambiente protegido), e sem solo, em bandejas utilizadas para produção de mudas e em hidroponia NFT.
Formas de cultivo
No Brasil, o cultivo de baby leaf no solo, em campo aberto, ainda é pouco realizado, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, principalmente onde há um grande volume de chuvas.
Isso porque a precipitação excessiva pode danificar as folhas, atrasando o desenvolvimento da planta, diminuindo a qualidade do produto, que se apresenta, quando colhido, amarelado, danificado e sujo.
O cultivo em ambiente protegido pode ser uma alternativa para produção, com consequente aumento na produtividade e qualidade.
Bandejas
A produção em bandejas assemelha-se ao que é feito na produção de mudas de hortaliças folhosas, neste caso, as baby leafs, podem permanecer nos recipientes por um período maior, até o momento da colheita, que também varia conforme a espécie cultivada e o comprimento da folha que se deseja para caracterizar o produto.
É importante ressaltar que, para a manutenção da qualidade das plantas para produção de baby leaf no sistema de cultivo em bandejas, são necessárias adaptações no manejo produtivo, principalmente no relacionado à irrigação, nutrição e controle fitossanitário.
Um maior número de células em bandejas pode ser mais vantajoso, produzindo mais mudas em menor área, com menor gasto de substrato por muda. Contudo, pode haver prejuízo na produção final e em termos qualitativos, devido à competição por luz e espaço físico à qual a planta é submetida, então é necessário se atentar a isso.
Substratos
A fibra de coco pode ser uma opção de substrato, devido a suas vantagens, como ausência de patógenos, longa durabilidade sem alteração de suas características físicas, possibilidade de esterilização e baixo custo.
A semeadura nas bandejas pode ser manual ou mecanizada. Em seguida, a superfície das bandejas deve ser coberta com o próprio substrato utilizado ou com vermiculita expandida. Após, as bandejas devem ser alocadas em ambiente protegido, onde permanecerão até o momento da colheita.
Dentro do ambiente protegido, pode-se realizar a irrigação/ fertirrigação, pela parte inferior da bandeja, através de floating (uma lâmina de solução nutritiva que normalmente varia entre três e cinco centímetros), ou pela parte superior (aspersão, microaspersão ou até mesmo com auxílio de um regador).
A colheita pode ser feita manualmente, com auxílio de tesouras, porém, para produção em escala maior, existe a necessidade de pesquisa para o desenvolvimento de equipamentos para colheita.
Hidroponia
O sistema hidropônico, do tipo NFT, é baseado no cultivo de plantas em solução nutritiva, com espessura laminar. Nesse sistema, a solução nutritiva é bombeada para os canais de cultivo onde estão localizadas as raízes das plantas cultivadas, retornando para o reservatório de origem, onde há o reaproveitamento da solução nutritiva.
Dentre as vantagens desse sistema, destacam-se maior produtividade, qualidade e velocidade de produção que as verificadas no cultivo no solo, pelo uso mais eficiente de água e fertilizantes, ausência de plantas daninhas, menor utilização de mão de obra e defensivos agrícolas e facilidade de colheita.
As desvantagens estão relacionadas ao maior custo de instalação e manutenção que no cultivo no solo, a dependência de energia elétrica e a exigência de conhecimento técnico para sua realização.
Quanto ao espaçamento de cultivo, pode ser feito na linha com a utilização de canais de cultivo (calhas) de diversos tamanhos (largura ou diâmetro), ou por meio da movimentação destes, com posterior fixação na bancada.
A colheita das plantas é realizada com o sistema radicular, sendo acondicionadas em embalagens e comercializadas na forma de plantas inteiras. Embora o sistema radicular não seja de interesse comercial, auxilia na maior durabilidade pós-colheita da planta.
Custo envolvido
A escolha do tipo de semente pode influenciar na eficiência e custo de produção. Sementes nuas possuem um menor custo em relação às peletizadas, no entanto, são mais difíceis para semear em virtude do tamanho, peso e formato.
Por outro lado, as sementes peletizadas possuem custo de aquisição mais elevado, são padronizadas e facilitam o processo de semeadura. Apesar disso, deve-se levar em consideração que o período de cultivo é reduzido quando comparado ao convencional.
Dessa forma, o retorno financeiro é mais rápido, implicando menores gastos durante processo de produção. Por ser considerado um nicho de mercado diferenciado, o valor atribuído ao produto final é mais elevado, devendo sempre apresentar alto padrão de qualidade.
Retorno
Em 2022 é possível encontrar, em grandes redes de supermercados de São Paulo, valor de caixa com mix de folhas baby (120g) sendo comercializadas entre R$ 10,90 a R$ 13,95. Comparado ao preço em 2013, por exemplo, que variava em torno de R$ 6,00, observamos um aumento de 43% no valor do produto final, ou seja, um acréscimo de aproximadamente 4,8% ao ano.
Dessa maneira, além do visual e sabor diferenciado, as baby leaf têm uma concentração maior de sais minerais e vitaminas. Isso sem levar em conta que, como são produzidas na metade do tempo, tornam-se plantas livres de produtos fitossanitários, na maioria das vezes, ou com menos aplicações, quando comparado ao cultivo convencional de hortaliças.