Rafael Rosa Rocha – Engenheiro agrônomo e mestrando em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) – rafaelrochaagro@outlook.com
É muito comum encontrarmos em plantas de tomate, aparentemente saudáveis, os sintomas de fundo preto nos frutos. Por isso, conhecer suas características e causas é necessário para a aplicação correta das técnicas preventivas. O apodrecimento apical danifica o fruto do tomateiro, inviabilizando a comercialização. Mas a adubação correta de cálcio previne esse problema na lavoura do tomateiro.
Entenda melhor
A podridão apical, ou fundo preto do fruto, é um distúrbio fisiológico que está associado ao desequilíbrio de cálcio na planta e/ou deficiência de cálcio no solo. Este problema ocorre, principalmente, durante o período de máxima expansão dos frutos (em torno de duas semanas após a polinização). No entanto, muitos fatores estão envolvidos neste caso, o que dificulta a identificação exata da(s) causa(s) deste problema.
Pesquisas indicam que a falta de cálcio está fortemente ligada à ocorrência deste distúrbio fisiológico, portanto, compreender a dinâmica do nutriente no solo e na planta se faz necessário.
A função do cálcio na planta, diferente de outros macronutrientes, é ser um importante constituinte da parede celular. Por isso, sua principal função é estrutural, promovendo a estabilidade da parede celular e das membranas, garantindo a integridade da célula.
O cálcio é absorvido da solução do solo na forma divalente (Ca2+). A absorção deste nutriente depende muito do fluxo de massa, uma vez que está limitada aos meristemas apicais (região jovem da raiz, não suberizada). Este fluxo de massa é o fluxo da água (a água flui ao longo de um gradiente de potencial hídrico, arrastando consigo os nutrientes dissolvidos na solução do solo para próximo da superfície radicular).
O cálcio é transportado via xilema na forma de Ca2+, por isso, seu movimento depende de reações de troca com a superfície da parede celular do xilema, uma vez que a superfície do xilema possui, predominantemente, cargas negativas (tende a fixar o cálcio).
Relação direta
Como o cálcio é um componente estrutural de macromoléculas e forma ligações estáveis, observam-se baixos níveis de cálcio no floema e baixa ou nula redistribuição dele na planta, ou seja, é pouco móvel. Devido a esta baixa redistribuição, os sintomas de deficiência de cálcio são observados em órgãos e partes mais jovens das plantas, como meristemas (gemas e brotações, região apical das raízes) e frutos, como tomate (fundo preto/podridão apical) e outros.
Tais sintomas ocorrem porque o cálcio é direcionado do solo para os locais de maior demanda transpiratória (as folhas). Por isso, o fundo preto do tomateiro é caracterizado como um distúrbio fisiológico. A lesão observada é causada pela morte de um grupo de células na fruta jovem em expansão.
Sintomas
Inicialmente, os sintomas aparecem como uma área embebida em água, que se torna escura e deprimida à medida que o fruto cresce. O escurecimento da lesão está relacionado com infecções secundárias causadas por patógenos oportunistas (como fungos).
Também pode ocorrer, em menor frequência, o escurecimento interno e amadurecimento precoce do fruto. Os sintomas são mais comumente observados na extremidade distal do fruto, mas às vezes o tecido placentário é danificado e os sintomas podem ocorrer em outras regiões do fruto.
Com isso, os prejuízos são irreversíveis, ainda mais se o fruto for para mercado in natura, pois o fruto que apresenta o sintoma de fundo preto será descartado, uma vez que este material atacado não serve para o consumo.
Na medida
Sabe-se que o cálcio é o terceiro nutriente mais absorvido pela cultura do tomate, podendo ser extraídas do solo quantidades superiores a 200 kg de cálcio por hectare em um ciclo de cultivo. Sabe-se que a deficiência de íons de cálcio traz grandes prejuízos ao produtor, pois, além de afetar o desenvolvimento da planta, sua deficiência ocasiona baixa deposição de pectato e fosfato de cálcio nos frutos, resultando em uma desordem fisiológica conhecida como podridão apical ou “fundo preto”.
O caminho é prevenir
A prevenção sempre é a melhor atitude para evitar essa situação em áreas de produção de tomates. Baixos níveis de cálcio no solo tornam mais provável o surgimento do fundo preto (importante saber se há necessidade de repor o nutriente no sistema).
Porém, a maioria dos solos brasileiros apresenta teores de cálcio suficientes para as plantas. No entanto, concentrações muito elevadas de outros nutrientes competem com o cálcio pelo mesmo sítio de absorção (K+, Mg2+ e NH4+), podendo desencadear os sintomas de deficiência de cálcio.
Então, é fundamental uma boa análise de solo para verificar a fertilidade do solo e evitar a falta de cálcio e também prevenir o estresse salino e a alta condutividade elétrica. Alguns estudos relatam que solos com alta condutividade elétrica podem desencadear o surgimento do fundo preto. Verificar a presença de acidez no solo também é importante. Estudos demonstram que, a campo, o fundo preto é mais frequente em solos ácidos.
Recomenda-se que pelo menos 90 dias antes do início da implantação da cultura se realize uma amostragem de solo para determinação da disponibilidade de nutrientes por meio de análise química. Com o resultado da análise química em mãos, a recomendação de adubação e calagem deve ser realizada por engenheiro agrônomo ou profissional habilitado, obedecendo sempre as necessidades da cultura ao longo de seu ciclo.
Recomendações
Para o fornecimento de cálcio e sua correção no solo em teores adequados, a técnica com melhor custo/benefício é a calagem, com aplicação do calcário a lanço em superfície em área total com posterior incorporação ao solo pelo menos 60 dias antes do transplantio das mudas.
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