
André Schönhofen
Melhorista da Biotrigo
Alice Agostinetto
Supervisora de Pesquisa da Biotrigo
O Brasil precisa produzir mais trigo. Este gigante agrícola ainda depende da importação de 6,0 milhões de toneladas do cereal anualmente, quantidade similar à produção interna. O trigo está presente de forma variada na mesa dos brasileiros e o consumo de pães, pizzas, bolos, biscoitos e massas representa uma parcela significativa da ingestão diária de energia.
Assim, o incremento na produção se faz necessário tanto para conservar parte dos U$ 1,3 bilhão gastos com importação dentro de nossas fronteiras, como para garantir segurança alimentar à população brasileira.
Diferentes caminhos levam a este objetivo. A região sul tem potencial claro para expandir sua área de trigo, visto a maioria das lavouras serem relegadas ao pousio ou cobertas com aveia preta no inverno. Para tanto, será necessária maior liquidez do cereal, atenção à qualidade industrial e pós-colheita.
O escoamento da produção do Sul para as demais regiões tende a melhorar com a duplicação de rodovias e a nova legislação de cabotagem, que promete maior eficiência de transporte. Isso elevaria a demanda pelo grão junto ao produtor, servindo de estímulo para o aumento da área.
A qualidade industrial, tolerância à germinação na espiga e resistência à giberela do trigo sulino também tiveram melhora significativa nos últimos quinze anos, graças ao melhoramento genético. Se combinadas com o correto manejo pós-colheita, como secagem, armazenamento e formação de lotes homogêneos, o produto gerado nesta região poderá suprir a maior parte das necessidades do restante do Brasil.
Cerrado
A menina dos olhos da triticultura brasileira, no entanto, é o Cerrado. Sob cultivo nessa região há décadas, o trigo aparece apenas nos últimos anos como alternativa viável para a safra de inverno e componente importante do sistema de cultivo.
Benefícios incluem diminuição da população de algumas espécies de nematoide e melhor controle de plantas daninhas pelo uso de princípios ativos distintos, efeito inibidor e alelopático da palhada, além de melhorias na fertilidade química, física e biológica do solo. Muito por isso, são comuns os relatos de ganhos de produtividade na soja, quando cultivada após trigo.
A área potencial para o trigo no Cerrado é vasta. Especialmente na época de safrinha, sob condições de sequeiro, estima-se haver mais de 2,0 milhões de hectares sob cultivo anual e altitude elevada, com condições adequadas para a cultura. Atualmente, projeta-se que Minas Gerais possua cerca de 100 mil ha sob cultivo, contando Goiás com aproximadamente 70 mil ha.
As regiões mineiras do Sul (bioma mata atlântica), Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste, bem como o leste de Goiás e o Distrito Federal têm se destacado como as mais relevantes. Novas regiões, como o oeste da Bahia e o sul goiano têm potencial para ganhar importância pela altitude, clima favorável e a disposição dos envolvidos.
Vantagens
Uma das principais vantagens do trigo do Cerrado e Sul mineiro é a proximidade com os centros consumidores, além de possuir excelente qualidade industrial e ser colhido antes dos demais no Brasil. Estes fatores, a contribuição ao sistema de produção e a alta rentabilidade proporcionada ao agricultor capacitam a cultura do trigo a se tornar cada vez mais relevante no Cerrado.
Ainda há entraves a serem superados, como a dinâmica de comercialização, barreiras tributárias entre Estados e, principalmente, a adaptação da cultura a um ambiente tropical. O melhoramento genético é peça fundamental para fazer o Cerrado e o Brasil produzirem mais trigo.
Melhoramento para o Cerrado
A semeadura do trigo sequeiro na região do Cerrado acontece entre final de fevereiro e início de abril, dependendo da região, aproveitando uma janela de cultivo carente por opções. Os volumes de precipitação registrados no início do ciclo permitem o pleno desenvolvimento vegetativo, enquanto a diminuição das chuvas em abril e maio permite condições favoráveis à brusone quando as espigas estão expostas.
Devido às inconstâncias climáticas, no entanto, produtores costumam hesitar quanto à data de semeadura, optando por correr riscos ou com a brusone ao semear cedo, ou com a seca ao semear tarde. Soma-se a isso a ocorrência eventual de enfermidades foliares que se beneficiam da plena umidade e elevadas temperaturas.
Pilares do sucesso
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