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segunda-feira, abril 21, 2025
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Embrapa avança no desenvolvimento de algodão tolerante à seca

Uma parceria entre Brasil e Japão resultou no desenvolvimento de variedades geneticamente modificadas mais tolerantes ao estresse hídrico do que as plantas convencionais

 

Crédito Shutterstock
Crédito Shutterstock

A Embrapa ” Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a partir de duas de suas unidades de pesquisa ” Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) e Algodão (Campina Grande, PB) ” conseguiu um resultado extremamente promissor para a cotonicultura no Brasil: a obtenção de plantas geneticamente modificadas (GM) de algodão com maior capacidade de tolerar os longos períodos de veranico e seca a que são submetidas na principal região produtora do País: o bioma Cerrado.

A conquista é decorrente de uma cooperação internacional iniciada em 2009 com o JIRCAS ” Japan International Research Center for Agricultural Sciences, órgão vinculado ao governo japonês, e consistiu na introdução de um gene denominado DREB (dehidration responsive element bending) em plantas de algodão.

As plantas foram submetidas à retenção de água nas casas de vegetação da Embrapa Arroz e Feijão (Goiânia, GO) e mostraram maior desenvolvimento de parte aérea e raiz, assim como aumento de 26% na retenção das estruturas reprodutivas (botões florais, flores e frutos) em relação às plantas não transgênicas sujeitas às mesmas condições de estresse hídrico.

O próximo passo é solicitar à CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) autorização para testá-las no campo, o que deverá ser feito em outra unidade da Embrapa: a Cerrados (Planaltina, DF).

“Trata-se de um resultado muito positivo e promissor para o agronegócio brasileiro“, comemoram a pesquisadora Maria Eugênia de Sá e a estudante de pós-doutorado Magda Beneventi, que conduziram os estudos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, sob a coordenação da pesquisadora Fátima Grossi.

Na Embrapa Algodão, as pesquisas foram realizadas pelo pesquisador Giovani Brito, atualmente locado na Embrapa Clima Temperado. As plantas de algodão tolerantes à seca podem ajudar os cotonicultores brasileiros a enfrentarem uma das piores ameaças a este setor hoje no País: a alta ocorrência de veranicos do bioma Cerrado, marcados por longos e fortes períodos de seca.

Foto 02 - Àesquerda, algodão tolerante à seca, e à direita, algodão convencional - Crédito Maria Eugênia
Àesquerda, algodão tolerante à seca, e à direita, algodão convencional – Crédito Maria Eugênia

Evolução da cultura

O algodão é um produto de extrema importância socioeconômica para o Brasil. Além de ser a mais importante fonte natural de fibras, garante ao País lugar privilegiado no cenário internacional, como um dos cinco maiores produtores mundiais, ao lado de China, Índia, EUA e Paquistão.

Até a década de 80, o cultivo de algodão no Brasil era concentrado, principalmente, nas regiões nordeste e centro-sul. A introdução do bicudo do algodoeiro, praga de maior impacto dessa cultura, aliada a outros fatores socioeconômicos e ambientais, devastou as lavouras algodoeiras, no período, fazendo com que o Brasil passasse de exportador a importador de algodão.

A partir da década de 90, a cultura migrou para a região do Cerrado e hoje ocupa uma área superior a um milhão de hectares, concentrada principalmente nos Estados de Mato Grosso, Bahia e Goiás.

Várias estratégias podem ser utilizadas para reduzir as perdas causadas pela seca, como o manejo adequado do solo e da lavoura e irrigação, entre outras. A biotecnologia tem se consolidado como importante aliada da agricultura nas últimas décadas, pois permite desenvolver variedades adaptadas a diferentes condições de estresses bióticos e abióticos.

Em paralelo aos estudos envolvendo a tolerância à seca em algodão, pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e da Embrapa Algodão concentram também esforços em pesquisas aplicadas biotecnologicamente ao controle do bicudodoalgodoeiro com estratégias de superexpressão de toxinas Cry (Bt) e de silenciamento gênico, por meio da tecnologia de RNA interferente (RNAi).

Após as adaptações desenvolvidas na Embrapa, especificamente para este inseto-praga, a equipe conseguiu obter plantas transgênicas que são capazes de interromper o ciclo do bicudo. Estas plantas de algodão GM se encontram em fase de fenotipagem a campo para reintrodução no Programa de Melhoramento do Algodão da Embrapa.

Além de garantir a estabilidade da produção no Cerrado, a Embrapa espera contribuir também para o restabelecimento da cultura do algodão na região nordeste do Brasil. “Em ambos os casos, os impactos sociais e econômicos poderão ser muito expressivos“, acreditam os pesquisadores responsáveis pelo estudo.

Primeiro resultado positivo no mundo

 

As pesquisas consistiram na introdução do gene DREB 2A em plantas de algodão para induzir a tolerância à seca. Esse gene já vinha sendo aplicado com sucesso pela equipe da pesquisadora YamaguchiShinozaki do laboratório de estresses abióticos do JIRCAS, tendo resultado no desenvolvimento de plantas de arroz, trigo, tabaco e Arabidopsisthaliana (planta-modelo), com níveis diferenciados de tolerância à seca.

O gene DREB está diretamente ligado à expressão de proteínas e a sua principal vantagem é a capacidade de ativar outros genes responsáveis pela proteção das estruturas celulares durante o déficit hídrico.

O gene foi disponibilizado pelo instituto japonês, a partir da cooperação técnica entre as duas instituições, e a sua introdução em plantas de algodão foi uma iniciativa pioneira da Embrapa em nível mundial.

Essa matéria completa você encontra na edição de abril 2016 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua para leitura integral.

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