O girassol é uma cultura de ampla capacidade de adaptação às diversas condições de latitude, longitude e fotoperíodo. Nos últimos anos, vem se apresentando como opção de rotação e sucessão de culturas nas regiões produtoras de grãos, principalmente após a soja na região centro-oeste.
A maior tolerância à seca, a menor incidência de pragas e de doenças, além da ciclagem de nutrientes, principalmente potássio, são alguns dos fatores que têm possibilitado sua expansão e consolidação como cultura técnica e economicamente viável nos sistemas de produção.
A maior tolerância do girassol à seca é, principalmente, devido ao sistema radicular profundo que explora grande volume de solo e, consequentemente, absorve maior quantidade de água e nutrientes. Entretanto, o cultivo de girassol deve ser destinado às áreas que, preferencialmente, adotem práticas de manejo melhoradoras das características físicas do solo, pois o girassol é fisicamente sensível à compactação de solo e quimicamente à acidez.
Regiões de cultivo
O girassol é uma cultura que se desenvolve bem na maioria dos solos agricultáveis, podendo ser cultivado em praticamente todo o território nacional, desde o Rio Grande do Sul até o hemisfério norte, no Estado de Roraima.
Atualmente, ele é cultivado comercialmente principalmente nos Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Paraná, Bahia e Ceará, principalmente na safrinha, em semeadura direta, especialmente após a cultura da soja.
O principal destino desta produção é atender a indústria de óleo comestível ou da agroindústria, o mercado de pássaros, o de silagem e até a produção de biodiesel. Além disso, existem estudos de empresas oficiais de pesquisa, e mesmo experiência de agricultores, mostrando que é uma cultura com expectativa de sucesso também em Roraima, onde o ciclo pode ser de 75 a 80 dias, enquanto nas demais regiões é de aproximadamente 110 dias.
O Nordeste brasileiro é outra região que vem testando o girassol, com grandes possibilidades de sucesso. Nessa região, consiste numa cultura de interesse para a pequena propriedade, já que, pelo alto teor de óleo no grão, permite a extração mecânica do óleo, que pode ser centralizada nas comunidades e associações rurais, utilizando prensas simples.
Esse aspecto proporciona a agregação de valor ao produto, contribuindo para a sustentabilidade da agricultura familiar, que além de fornecer óleo comestível de excelente qualidade, fornece como coproduto, torta de girassol para o arraçoamento da pecuária local.
Diferentes usos
O girassol é principalmente cultivado no mundo como fonte de óleo comestível, sendo a terceira cultura anual com maior produção de óleo no mundo. Entre as culturas anuais, o girassol é responsável por 16% da produção mundial de óleo, enquanto a soja atende por 46% da produção.
Por outro lado, considerando as principais culturas produtoras de óleo (culturas anuais e perenes), o girassol responde por 9%, logo após a palma de óleo (dendê) com 35%, a soja com 26% e a canola com 15%.
O óleo de girassol destaca-se por suas excelentes características nutricionais e funcionais à dieta humana. Possui alta relação de ácidos graxos poli-insaturados/saturados (65%/11%), em média, sendo que o teor de poli-insaturados é constituído, em sua quase totalidade, pelo ácido graxo linoleico.
Chamamos de ácidos graxos essenciais aqueles que, contrariamente a todos os outros, não podem ser sintetizados pelo organismo humano, por meio de vias metabólicas próprias. Estes ácidos graxos, não produzidos pelo organismo, devem ser ingeridos por meio dos alimentos, e o girassol produz em abundância.
Recentemente, tem sido introduzido no mercado o girassol rico em ácido graxo oleico (girassol alto oleico). A presença deste ácido graxo, além de trazer os benefícios à saúde, confere ao óleo alto grau de estabilidade oxidativa, sendo bastante procurado pela indústria de alimentos.
O girassol também pode ser fonte de proteínas para alimentação animal na forma de farelo e até como silagem. Os farelos constituem importante fonte de proteína para a alimentação animal, formados por aproximadamente 44% de proteína bruta, rico em ferro e cálcio, vitaminas A e do complexo B com valor biológico elevado (60%), alto teor de metionina e sulfurados, mas com menor conteúdo de lisina, comparado com a soja.
Estudos realizados no Brasil e demais países produtores de girassol têm demonstrado a eficiência nutricional da torta de girassol na formulação de rações para nutrição animal. Não podemos esquecer também do mercado de grãos para alimentação de pássaros – para essa finalidade, o mercado prefere os grãos rajados de preto e branco – e o mercado de grãos para confeitaria, para confecção de pães, bolos, biscoitos, etc. ou para ser consumido torrado.
Além dessas vantagens diretas, existe a possibilidade de produção integrada de mel de excelente qualidade, uma vez que a flor de girassol é bastante atrativa para abelhas. A lavoura também é beneficiada pela melhor polinização realizada pelas abelhas, favorecendo maior produção de grãos.
Outro mercado que vem despertando grande interesse entre a população é o de girassol ornamental, que pode ser utilizado em jardins ou como flor de corte, com grande aceitação no mercado de floricultura.
Girassol na safrinha
O girassol pode ser cultivado antecipando-se à cultura principal, em algumas condições e, em outras, pode ser semeado na safrinha, substituindo, parcialmente, o milho ou o sorgo. Devido à maior tolerância ao estresse hídrico, o girassol apresenta-se como opção de safrinha para o Centro-Oeste brasileiro, abrindo nova perspectiva de cultivo e renda ao agricultor.
Outra característica importante do girassol é seu sistema radicular, que explora grande volume de solo, o que possibilita absorver quantidade de água e nutrientes. Além disso, é conveniente salientar que um hectare de girassol pode produzir em torno de 4,0 a 6,0 toneladas de restos culturais, dependendo do manejo e do genótipo utilizado.
Esses restos são ricos em nutrientes e, com sua decomposição, beneficia as culturas em sucessão, pela grande ciclagem de nutrientes. Nesse processo de ciclagem, destacam-se o potássio, o cálcio e o boro, que apresentam taxas de exportação reduzidas, ou seja, pouco é retirado da área pelos grãos, ficando os nutrientes da parte aérea à disposição para as culturas semeadas em sucessão.
A rentabilidade, fator também determinante na escolha de cultivo, será função não só dos preços praticados no mercado, mas também do manejo da cultura/custo de produção e da produtividade alcançada. Além do lucro financeiro, os benefícios resultantes da ciclagem de nutrientes devem ser também computados na rentabilidade da cultura, colaborando para a sustentabilidade do agronegócio do girassol no Brasil.
Fonte: Embrapa Soja