Profissionais do setor de
plantas aromáticas e de extração de óleos essenciais ganharão um triplo reforço
do Instituto Agronômico (IAC) nesta terça-feira, 7 de dezembro de 2021: será
inaugurada uma nova área de pesquisa e prestação de serviço, com um novo
secador metálico solar/elétrico. Esse upgrade nas instalações irá propiciar
condições para atender cerca de 200 processos, por ano. Também no dia 7, haverá
uma nova oportunidade de aprendizado no 6° Curso Prático de Extração realizado
pelo IAC, em Campinas. No evento, o Instituto ainda lançará o livro Plantas
Aromáticas: contribuições científicas e tecnológicas para a cadeia produtiva de
óleos essenciais. O curso será na Sede e na fazenda Santa Elisa do IAC, da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
Na nova área, chamada Planta Piloto Agroindústria de Extração de Óleos
Essenciais, serão realizados processos de extração de óleo para fins de
pesquisa e para prestação de serviços a pequenos produtores. O novo secador
metálico solar/elétrico é um auxiliar no processo de plantas aromáticas, que
necessariamente precisam de secagem para viabilização da extração do óleo
essencial, como ocorre, por exemplo, com camomila e patchouli. “Mas o
secador também terá a função no estudo de plantas medicinais para fins de
extratos e fitoterápicos; para as plantas condimentares e chá e pesquisa de tempo
de secagem”, comenta a pesquisadora do IAC e responsável pela área, Eliane
Fabri.
A nova estrutura proporcionará maior agilidade às atividades. “Para cada
processo, dependendo da quantidade de material para ser trabalhado, leva-se um
dia de trabalho para concluir”, diz a cientista. Os investimentos nessa
estrutura foram feitos pelo Governo paulista, no total de R$ 235.600,00. Outro
equipamento destilador foi obtido com recursos de parceria público-privada.
6° Curso Prático de Extração
O 6° Curso Prático de Extração terá palestras e atividades práticas. Pela
manhã, as palestras serão na sede do Instituto, em Campinas. À tarde, a parte
prática do curso terá visita ao campo de produção, acompanhamento das etapas de
carregamento do destilador, destilação e separação do óleo essencial, embalagem
e armazenamento, na fazenda Santa Elisa do IAC.
A pesquisadora do IAC e coordenadora do evento, Eliane Fabri, irá palestrar
sobre como produzir plantas aromáticas para extração de óleos essenciais. Para
essa finalidade, o cultivo se diferencia dos demais fins e usos dessas plantas,
principalmente, em relação ao manejo e ao ponto de colheita. “Por exemplo:
no caso do manjericão, para uso condimentar, o ponto de colheita é quando a
planta está em pleno estágio vegetativo (apenas com folhas e sem hastes
florais), mas se a finalidade for a extração do óleo essencial de manjericão, o
ponto de colheita é quando a planta está em pleno desenvolvimento vegetativo e
em plena floração, pois nestas condições o teor de óleo essencial na planta é
maior”, leciona.
Podem haver também diferenças quanto ao espaçamento das plantas no campo. A
maioria dos cultivos de plantas aromáticas é irrigada. “As recomendações
técnicas norteiam o produtor baseado em dados científicos, mas cada região tem
sua especificidade edafoclimática, que poderá interferir e haver necessidade de
adaptações para o local”, completa a cientista do IAC, da Agência Paulista
de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
No curso serão abordadas as plantas mais demandadas pelo mercado de óleo
essencial como: capim-limão, citronela, alecrim, lavandas, gerânio, manjericão,
melaleuca, funcho, erva-baleeira e alfavaca.
O evento atrai participantes de todas as regiões brasileiras. E o perfil do
público é bem diverso. Há produtores, biólogos, ecologistas, agrônomos,
pesquisadores, estudantes, produtores em início de atividade e alguns já
experientes no assunto.
Os produtos desses cultivos seguem para o mercado de varejo de óleos
essenciais, em embalagens fracionadas e mercado atacadistas. Segundo Eliane,
muitos produtores verticalizaram a produção criando sua própria linha de
cosméticos ou fitoterápicos, mas outros têm parcerias com empresas
farmacêuticas ou de perfumes e cosméticos.
A transferência de conhecimento e tecnologias é fundamental para o sucesso da
lavoura e da extração de óleos essenciais. Por exemplo, o cultivo de vetiver
para extração de óleo essencial exige solos bem drenados, tipicamente arenoso e
com pH do solo acima de 8. “Em solos franco- argilosos é possível
cultivar, porém o arranquio das plantas se tornará uma operação muito
trabalhosa, já que as raízes são usadas para a extração do óleo essencial e em
relação ao pH do solo continuará exigindo acima de 8”, explica.
Como são os cultivos e as agroindústrias
Em geral, há agroindústrias de pequeno porte, instaladas em sua maioria em
pequenas propriedades. Tem também algumas de médio a grande porte, porém com
característica de empresa familiar. Existem ainda empresas com porte maior e
que saem do perfil familiar. Essas agroindústrias são responsáveis pela
produção das plantas no campo e pela extração do óleo essencial. “Mas,
existem empresas que adquirem óleos essenciais dessas agroindústrias e os
utilizam como matéria-prima para outros produtos, como perfumes, cosméticos,
alimentos e bebidas, medicamentos e químicos”, afirma Eliane.
No Brasil, as principais plantas aromáticas cultivadas são: alecrim, alecrim do
campo, camomila, funcho, capim-limão citratos e capim-limão flexuosus,
citronela de java, citronela do ceilão, gerânio, lavandas, orégano, tomilho,
manjericão, melaleuca, louro, manga, erva-baleeira, goiaba, pimenta-rosa,
cravo, canela, gengibre, açafrão, zedoária, mil folhas, vetiver e patchouli.
No estado de São Paulo, há predominância de cultivos na região de Jaú, Dois
Córregos, Santa Maria e Torrinha, com extração principalmente de óleo essencial
de eucalipto, citronela e capim-limão. A região do Vale do Paraíba se destaca
com produção orgânica e agroecológica, além da maior diversidade de espécies:
alecrim, lavandas, gerânio, capim-limão, erva-baleeira, alecrim do campo,
citronela e melaleuca.
“Além dessas, há cultivos também nas regiões de Capão Bonito, Bom Sucesso
de Itararé, Catanduva, Votuporanga e Araraquara, que vêm despontando na
produção de óleos essenciais, e na região de Amparo, Socorro e Estiva Gerbi
também há produtores.” De um modo geral, quase todos os estados
brasileiros têm alguma produção de óleo essencial.
Segundo a pesquisadora do IAC, Lílian Cristina Anefalos, o número de produtores
é incerto, devido à carência de informações mais detalhadas sobre esse setor.
“Por isso, o IAC está realizando um trabalho diferenciado junto ao setor,
por meio de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em parceria, para
de fato estruturar um programa dedicado ao desenvolvimento de tecnologias
agrícolas para o segmento de aromáticas”, diz a pesquisadora que irá
palestrar sobre aspectos relevantes da cadeia produtiva e mercado.
No Brasil, há óleos essenciais provenientes de cultivos consolidados de
citronela, lima e eucalipto ou provenientes de espécies nativas brasileiras,
como pau-rosa, com preços mais elevados em relação aos importados.
Atualmente, os principais mercados de óleos essenciais estão concentrados na
América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico. As principais matérias-primas são
laranja, limão, eucalipto, lima, folha de trevo, hortelã e citronela.
Gargalos do setor
De acordo com Eliane Fabri, dentre os desafios desse setor está a necessidade
do fortalecimento da cadeia de produção e a melhoria da interlocução com os
diversos elos. É preciso também encarar a competitividade com os óleos
essenciais importados e a falta de conhecimento sobre os aspectos regulatórios
do negócio.
Por Carla Gomes (MTb 28156)
Assessora de imprensa – IAC