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segunda-feira, abril 21, 2025
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Incêndios florestais: A realidade sobre o fogo que consome o Brasil

Autores

Fernanda Moura Fonseca LucasEngenheira florestal e mestranda pelo programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR)fernanda-fonseca@hotmail.com

Bruna KovalsykiEngenheira florestal e doutoranda pelo programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal – UFPRkovalsyki.b@gmail.com

Alexandre França TettoEngenheiro florestal, doutor e professor do curso de Engenharia Florestal – UFPR

Incêndio – Crédito: Shutterstock

Os incêndios florestais são uma das principais ameaças à biodiversidade de ecossistemas não dependentes do fogo. Este tipo de distúrbio pode ocorrer de forma natural ou por atos antrópicos, sendo o último caso relacionado principalmente a atividades de uso e ocupação do solo.

Além das perdas ecológicas, a queima da biomassa proveniente dos incêndios emite altas concentrações de carbono para a atmosfera, comprometendo a qualidade do ar e resultando em diversos riscos à saúde pública.

No Brasil, o período que se estende de julho a outubro (Figura 1) corresponde à temporada mais crítica para ocorrência de incêndios florestais, por ser também o período mais seco em diversas localidades.

Condições para o fogo

A baixa umidade relativa, temperaturas elevadas, pequena precipitação e ventos fortes resultam em uma atmosfera perfeita para a propagação do fogo. Nos nove primeiros meses de 2020, mais de 226 mil km² foram queimados em todo o País e 160.459 focos de calor foram identificados por meio do satélite de referência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), sendo este valor o recorde observado para o mesmo período nos últimos 10 anos (2011-2020).

Figura 1. Média mensal da área queimada (km²) no Brasil de 2010 a 2019

Fonte: INPE, 2020

Ecossistema em perigo

Os Estados do Mato Grosso, Pará e Amazonas são os responsáveis pelo maior número de focos detectados até setembro de 2020. A nível de bioma, para o mesmo período, a Amazônia concentrou 47,4% dos focos, o Cerrado 28,7%, Pantanal 11,4%, Mata Atlântica 8,7%, Caatinga 2,9% e o Pampa 0,96%.

Por ser um ecossistema sensível ao fogo, a Amazônia não apresenta uma flora com características evolutivas adaptadas à passagem de incêndios. Anualmente, manchetes no mundo relatam os desastres proporcionados pela ocorrência do fogo na região. 

O fato é que em condições normais, devido à alta umidade, o material combustível presente no interior da floresta raramente entraria em ignição. Entretanto, esta realidade tem se modificado com o passar dos anos, basicamente devido à fragmentação de habitats pela expansão agrícola e as oscilações climáticas, principalmente em anos com eventos como El Niño, que reduz a quantidade de chuvas para a região, tornando a floresta mais propícia à propagação das chamas.

Uma das causas mais graves de ignição está associada ao desmatamento, em que o fogo é utilizado ao final do processo para limpeza da área aberta, por meio da queima dos restos vegetais não explorados.

Diferentemente da Amazônia, o Cerrado e o Pantanal apresentam tipos de vegetação mais dependentes e resilientes à passagem das chamas. Apesar disso, a situação evidenciada em 2020 para o Pantanal é extremamente alarmante. Embora as espécies vegetais do bioma apresentem traços funcionais de proteção ao fogo, a intensidade dos incêndios presentes na região este ano podem alterar o seu funcionamento ecológico. Isso porque somente nos nove primeiros meses o bioma teve 32.910 km² de áreas queimadas, superior ao valor obtido em todo ano de 2019, que já se tratava de uma taxa anormal (Figura 2).

Além disso, o Pantanal apresenta alta densidade de focos de calor, uma vez que mais de 11% das detecções obtidas em todo o País neste ano foram registrados para o bioma, que é o menor em área territorial (150 mil km²), induzindo a percepção de alta severidade das queimas.

Figura 2. Quantidade de área queimada (km²) no Pantanal de 2010 a setembro de 2020.

Fonte: INPE,2020

A estiagem e o baixo nível dos rios, associado à falta de medidas preventivas, têm transformado o Pantanal em cinzas. No Estado do Mato Grosso, o Parque Estadual Encontro das Águas já teve mais de 60% da sua área queimada, sendo este o ambiente que abriga a maior concentração de onças-pintadas por quilômetro quadrado do mundo.

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